Árvores urbanas, aliadas no enfrentamento das mudanças climáticas

Os eventos climáticos que temos visto no mundo e, em especial, aqui no Brasil, são evidências mais do que claras de que o nosso planeta está febril

Aline A. Cavalari Corete é fisiologista vegetal, coordenadora do curso de
Especialização em Arborização Urbana do Instituto de Ciências
Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) — Campus
Diadema

Vista de uma cidade, com prédios em meio à densa vegetação
Imagem conceitual criada por IA (Midjourney 5), por Freepik

Os eventos climáticos que temos visto no mundo e, em especial, aqui no Brasil, são evidências mais do que claras de que o nosso planeta está febril. As tão anunciadas mudanças do clima, de fato, já se instalaram, de modo que o futuro é agora e nossas ações hoje serão muito importantes para que essa e as próximas gerações sintam com menos intensidade toda essa transformação. Uma dessas ações está diretamente ligada à arborização urbana.

Contudo, infelizmente, quando se pensa em árvores nas grandes cidades, logo se imagina problemas, quedas e estragos. Foi assim nesta última tempestade tropical que a cidade de São Paulo presenciou, quando as árvores foram consideradas as vilãs do caos vivido.

A ideia deveria ser completamente oposta. A arborização urbana exerce
fundamental importância, por ser a forma mais eficaz de mitigar os poluentes emitidos, garantindo ar mais puro e, como resultado, melhoria na saúde respiratória e alívio psicológico. Igualmente relevante, ela também se mostra essencial para amenizar impactos causados pelas mudanças climáticas, ao diminuir as ilhas de calor, o que, inclusive, traz conforto e bem-estar. Para tudo isso acontecer, porém, ela precisa constar no planejamento das cidades.

Nas metrópoles, há um problema intrínseco com relação à arborização urbana, uma vez que a árvore tem sempre que lidar com os conflitos e obstáculos da cidade, como a fiação aérea, calçadas estreitas, espaços de plantio inadequados, além da falta de manutenção e de manejo adequado. Soma-se ainda os insuficientes investimentos e capacitação de pessoal para atuar nesse tipo de serviço. A consequência de tudo isso são as podas erradas, incluindo a de raiz, sufocamento do colo da árvore e má escolha de espécies a serem plantadas no viário, mesmo com estudos e dados científicos à disposição para evitar esse equívoco. O resultado é o que vimos recentemente na capital paulista.

Não bastasse tamanhos obstáculos, temos ainda as grandes edificações,
construídas muito próximas umas das outras, o que geram corredores de vento com velocidades acima de 120km/h, e que facilmente acarretam quedas das árvores.

O caos vivido recentemente deve servir como alerta para que os(as) gestores(as) públicos(as) mudem e possam dar a devida atenção para a arborização urbana. As árvores não podem ser lembradas apenas quando
caídas. Elas devem ser preservadas como pilares para a garantia de ar limpo, frescor e boas sombras, especialmente em dias de elevadas temperaturas, com recordes que acompanham toda essa mudança climática. É, assim, necessário um olhar diferenciado do poder público para esse tema, pois as árvores são nossas aliadas nesta história.

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