Reflexões sobre uma jornada e o valor do mestrado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar

Egresso foi o primeiro estudante do programa de pós-graduação a conquistar o diploma

A imagem mostra uma superfície de trabalho clara, provavelmente uma mesa, sobre a qual há um laptop prateado parcialmente visível. No canto inferior esquerdo do laptop, há um par de óculos de armação preta repousando sobre a parte do teclado e um bloco de notas ou caderno. Próximo aos óculos, há uma caneta branca com uma ponta transparente descansando na superfície da mesa, levemente inclinada. Ao fundo, vê-se uma pilha de livros fechados com capas de cores diferentes.

Caio Teissiere Moretti da Silva é mestre em Ciência e Tecnologia do Mar pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor-presidente da Fundação Centro de Excelência Portuária de Santos (Cenep)

Nesta época do ano, é comum que eu me permita uma pausa para refletir sobre minha trajetória acadêmica e profissional. Coincidentemente, o convite para compartilhar essas reflexões chegou em um momento oportuno. Há exatos quatro anos, em 2020, eu estava no meio do mestrado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar, no Campus Baixada Santista da Unifesp, vivenciando o que se tornaria a semana mais desafiadora da minha vida. Naquele período, enfrentei a dor da perda do meu pai enquanto aguardava ansiosamente o nascimento do meu filho em plena pandemia. Em meio a essas emoções intensas, questionei-me algumas vezes se deveria interromper os estudos ou reunir forças para seguir adiante. Decidi continuar.

Mas, vamos voltar ao início dessa jornada, que começou a partir de conversas e inspirações surgidas no ambiente de trabalho, quando colegas despertaram em mim o interesse por um programa de pós-graduação recém-aprovado na Baixada Santista, com a missão de desenvolver estudos interdisciplinares focados na zona costeira. Uma das linhas de pesquisa, intitulada “Porto e Mar”, ecoou intensamente em minhas experiências e aspirações profissionais.

Naquele momento, eu já estava há oito anos como especialista portuário administrador na então Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que mais tarde se transformaria na Autoridade Portuária de Santos. Minha atuação na empresa era principalmente nas áreas de treinamento e desenvolvimento, e foi essa dedicação que levou à minha indicação ao cargo de diretor-presidente da Fundação Centro de Excelência Portuária de Santos (Cenep), uma entidade pública com a nobre missão de promover capacitação, qualificação e pesquisa no setor portuário.

Gosto de destacar que, mesmo antes de ingressar no setor portuário, sempre tive curiosidade em entender como nós, seres humanos, poderíamos aprimorar nossa relação com os sistemas marinhos e costeiros, especialmente através da inovação tecnológica. Durante os anos em que pratiquei canoagem, um dos meus trajetos favoritos era remar próximo às imponentes instalações do Porto de Santos, refletindo sobre o impacto humano nesses ambientes tão vitais.

Ingressar em uma universidade pública foi outra experiência que ampliou minhas perspectivas. Até então, toda a minha formação acadêmica superior havia sido em instituições particulares, financiadas por mim mesmo. Estar em um ambiente público, cercado por colegas com histórias de vida diversificadas, ampliou minha visão de mundo e reforçou meu compromisso com a educação de qualidade e com a equidade no acesso ao conhecimento, princípios que carrego nas minhas propostas de trabalho.

Profissionalmente, sem receio de exagerar, considero o mestrado um divisor de águas. Como dirigente da Fundação Cenep, eu reconhecia a importância de elevar minha titulação, mas o mestrado me ofereceu muito mais do que isso. Proporcionou-me a oportunidade de desenvolver competências valiosas que impactaram diretamente meu desempenho profissional: refinei minha capacidade de análise e síntese ao mergulhar em leituras complexas e na elaboração de resumos; aperfeiçoei minhas habilidades de comunicação e apresentação através de entrevistas e da atuação no Programa de Apoio à Docência; e aprimorei meu raciocínio lógico ao aplicar conceitos matemáticos e estatísticos nas análises do meu projeto.

Participar das aulas e das discussões foi uma experiência intelectual e pessoal transformadora. O mestrado não apenas me enriqueceu como profissional, mas também me desenvolveu como indivíduo e cidadão. A possibilidade de estar envolvido em um projeto com impacto social significativo, por meio da produção acadêmica, foi uma das realizações mais gratificantes da minha vida. Este percurso culminou em um projeto focado na análise das competências necessárias para a operação portuária e me permitiu repensar o ensino profissional no porto sob uma nova perspectiva.

As conexões que construí com meus orientadores, colegas de laboratório e de curso também são pontos importantes a serem citados. Embora a convivência com eles tenha se tornado menos frequente nos últimos quatro anos, o apoio e a orientação que recebi continuam presentes em minha vida.

Encerro minhas reflexões sobre a importância do mestrado para mim, revelando que o resultado de todo o esforço presente nessa jornada foi minha aprovação como o primeiro aluno do programa a conquistar o diploma, uma conquista que celebrei com orgulho. Defendi meu mestrado exatamente no dia em que meu filho celebrava um ano de vida, unindo dois dos momentos mais importantes da minha trajetória.

Desde então, outras oportunidades profissionais surgiram, mas continuo a me dividir entre as responsabilidades na Fundação e na Autoridade Portuária. Recentemente, recebi o presente de gerir o Museu do Porto de Santos, um espaço dedicado a preservar o patrimônio histórico e cultural do maior porto do hemisfério sul, uma missão que encaro com grande respeito.

Ao escrever este artigo de opinião, não posso deixar de expressar minha profunda gratidão à professora Nancy Ramacciotti, cuja orientação foi decisiva para o meu sucesso. Seu compromisso incansável com a formação de tantas pessoas, como eu, é algo pelo qual serei eternamente grato.

E quanto ao futuro? Minhas ambições continuam a crescer. Pretendo ingressar no doutorado, onde espero continuar contribuindo para a educação de jovens e para a formação de profissionais nas áreas de logística e portuária. Continuar trilhando esse caminho que tanto me apaixona é, sem dúvida, a próxima etapa dessa jornada que ainda tem muito a oferecer.

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