Represa Billings — Paulo Pinto / Fotos Públicas

Impactos da covid-19 na atividade de pesca no Reservatório Billings

Juliana de Souza Azevedo, docente do Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) — Campus Diadema

No âmbito do projeto de extensão universitária Peixe na Rede, desenvolvido no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) — Campus Diadema, foram coletados dados junto aos pescadores artesanais que exercem a pesca de forma profissional no Reservatório Billings.

O Reservatório Billings é um dos mais importantes mananciais utilizados para fins de abastecimento público na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Apesar de possuir pontos eutrofizados — com excessiva quantidade de nutrientes como compostos de fósforo e nitrogênio, que favorecem a proliferação de plantas aquáticas e algas diversas, as quais reduzem a quantidade oxigênio dissolvido disponível e comprometem toda a saúde do corpo d’agua –, nos locais que apresentam melhor qualidade da água, a pesca é exercida seja para fins de subsistência ou como forma de laser. Os primeiros peixamentos (introdução de peixes numa área) na Billings ocorreram em 1948 e foram feitos com o intuito de alavancar a pesca na região, como uma forma de movimentar a economia local.

(arquivo pessoal)

Em virtude da crise sanitária ocasionada pela pandemia de covid-19, populações humanas que residem em áreas vulneráveis, como ao entorno da represa Billings, ou que desempenham atividades profissionais autônomas como a pesca tiveram seus sistemas de aquisições financeiros comprometidos. Por isso, a equipe do Projeto Peixe na Rede, coordenado pela professora Juliana Azevedo, do Departamento de Ciências Ambientais do ICAQF/Unifesp, buscou avaliar a percepção dos pescadores de pequena escala que dependem da pesca artesanal na represa Billings como fonte de renda, assim como os potenciais efeitos e pressões que a pandemia exerce sobre a atividade pesqueira destes atores. Assim, essa pesquisa se propôs a obter conhecimentos que possam ser revertidos, no futuro, em ações que auxiliem os pescadores artesanais que utilizam a represa Billings, no enfrentamento de crises como a ocasionada pela pandemia do novo coronavírus.

No contexto da pesca, a pandemia de covid-19 trouxe uma desaceleração global na pesca comercial, seja de pequena quanto de grande escala. Em geral, a pandemia dificultou a venda do pescado, reduziu a procura por peixes e deixou o atravessador mais caro, o que impossibilitou a venda total da produção. Tal fato, provavelmente também se relaciona ao aspecto cultural atribuído a população acreditar que o pescado oriundo da represa Billings possui baixa qualidade, em virtude principalmente da poluição de alguns setores eutrozidados na Billings. Entretanto, vale destacar que a pesca é realizada nas áreas da represa que possuem melhor qualidade da água. A semana santa é o período em que os pescadores do sistema Billings conseguem escoar com maior facilidade a sua produção, e todos os pescadores abordados relataram uma queda na quantidade de pescado, quando comparado com a semana santa de 2019. É importante salientar que a semana santa de 2020 aconteceu em um período crítico da pandemia de covid-19, onde as medidas de distanciamento e isolamento social no Estado de São Paulo estavam mais restritivas.

Outro ponto que merece destaque é que, apesar de 74% dos pescadores relatarem ter recebido algum tipo de auxílio do governo (bolsa família ou auxílio emergencial), em muitos casos, ainda foi preciso exercer a pesca durante a pandemia, a fim de garantir o próprio sustento. A pandemia tem causado perdas na qualidade de vida, por decréscimo da atividade pesqueira dos pescadores artesanais na Billings. Relatos de pescadores e da presidente da Colônia de Pescadores Z-17 — Orlando Feliciano indicam a existência de cerca de 400 pescadores/as atuantes e dependentes da atividade da pesca na Billings. Alguns aspectos positivos já relatados em outros estudos (como o trabalho de Bennett et al., 2020) com pescadores artesanias e associados à pandemia da covid-19 referem-se a partilha de alimentos, entregas coletivas, aumento de vendas locais e redução da pressão de pesca em alguns lugares. Apesar das dificuldades socioeconômicas, que se acentuaram no período de pandemia, na Billings, a preocupação social, econômica e ambiental dos pescadores artesanais é algo que também merece destaque.

Por fim, para pensar em planos de manejo de estoque de peixes é fundamental traçar e acompanhar as mudanças no perfil socioeconômico dos pescadores artesanais, pois isso impactará diretamente na construção e atualização dos instrumentos normativos de captura, assim como nas políticas públicas e eventuais realocações de recursos para o setor da pesca, ainda mais em um cenário de pandemia.

Mais informações sobre o estudo podem ser encontradas no artigo, por meio deste link.

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