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Exercitar-se é preciso!

Pessoas fisicamente ativas ficam menos doentes, se recuperam mais rapidamente quando adoecem, possuem melhor qualidade de vida e são mais produtivas do ponto de vista laboral e das atividades diárias

Ronaldo Vagner Thomatieli dos Santos, professor associado e coordenador do curso de Educação Física, do Departamento de Biociências do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) — Campus Baixada Santista

O estilo de vida moderno impõe diversos sacrifícios às pessoas em benefício dos ganhos financeiros e profissionais. Como consequência, as pessoas dormem mal, se alimentam mal e estão se tornando cada vez mais sedentárias em busca de um ideal, que pouco contribuiu com um estilo de vida saudável. No dia mundial de combate ao sedentarismo, vale a pena fazer uma reflexão dos motivos pelos quais ser fisicamente ativo deveria ser um objetivo palpável e não utópico.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que 27,5% dos adultos e mais de 81% dos adolescentes do mundo não alcancem as recomendações mínimas de exercícios físico aeróbio. No Brasil, o sedentarismo tem diminuído, porém, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 40,3% da população brasileira é sedentária. Números alarmantes se levarmos em conta as consequências do sedentarismo.

Pessoas fisicamente ativas ficam menos doentes, se recuperam mais rapidamente quando adoecem, possuem melhor qualidade de vida e são mais produtivas do ponto de vista laboral e das atividades diárias. Esse argumentos por si deveriam ser convincentes. Entretanto, em um país onde os costumes e a agenda são pautados pelos agentes econômicos é salutar informar que o Estado de São Paulo gastou mais de R$ 90 milhões em 2020 devido a doenças diretamente relacionadas ao sedentarismo. Estimativas sugerem que os gastos do Ministério da Saúde relacionados à obesidade podem ter atingido a incrível cifra de R$ 1,5 bilhão em 2020. São gastos com exames hospitalares, internações, cirurgias e procedimentos de recuperação evitáveis.

Além do impacto econômico, o sedentarismo permite ser observado por diferentes ângulos. Pessoas que são fisicamente inativas desenvolvem ao longo do tempo uma condição denominada de “inflamação crônica de baixo grau”. Não se trata de uma inflamação de magnitude incomparável como nas grandes infecções e como, infelizmente, nos acostumamos a ouvir por causa da covid-19. O tecido adiposo produz proteínas com elevado poder inflamatório. Por isso, quanto maior a quantidade de tecido adiposo no organismo da pessoa maior a tendência de desenvolvimento da quadros inflamatórios crônicos. A inflamação crônica de baixo grau é silenciosa e sem sinais evidentes, mas que por perdurar por meses ou anos pode estar na origem das principais doenças cardiovasculares, doenças metabólicas como obesidade e diabetes, depressão, piora do sono e da cognição (como dificuldade de concentração e de aprendizado), doenças autoimunes, câncer e outras doenças crônicas. Mais ainda, essa inflamação crônica faz com que a capacidade do sistema imunológico de detectar patógenos (agentes tais como vírus e bactérias) e destruí-los fique prejudicada, abrindo caminho para doenças infecciosas oportunistas como gripes, resfriados e infecções gastrointestinais.

Por outro lado, o exercício físico tem papel relevante no contexto fisiológico de combate aos efeitos do sedentarismo. Além de reduzir a quantidade de gordura estocada no organismo, o exercício físico faz com o que o músculo produza substâncias anti-inflamatórias, que como o próprio nome sugere tem potencial de reduzir o quadro inflamatório causado pelo sedentarismo e gerar um equilíbrio, que é favorável para a prevenção das doenças anteriormente citadas.

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Não se trata de treinar como o campeão olímpico da maratona. Trata-se de deixar o carro em casa e ir de bicicleta, ir a pé na padaria ou farmácia, caminhar no parque. Se possível treinar. As novas recomendações apresentadas pela ONU em 2020 sugerem que todos as pessoas entre 18 e 64 anos devam praticar pelo menos 300 minutos de exercícios aeróbios com intensidades moderadas ou 150 minutos de exercícios vigorosos por semana. Além dos exercícios aeróbios, a ONU recomenda a realização de exercícios que promovam o fortalecimento muscular por pelo menos duas vezes na semana. São recomendações mínimas e possível para todos.

Essas recomendações são amplas, servem de guia e precisam ser ajustadas para cada pessoa levando em conta idade, gênero, doenças preexistentes e outras individualidades. Para maximizar os benefícios do exercício e reduzir os riscos, é indispensável que a prática de qualquer exercício físico seja acompanhada por um profissional de Educação Física, que é o único profissional capacitado para prescrever exercício físico de forma segura.

Combater o sedentarismo deve ser prioridade, assim como o combate à pobreza e a fome, à concentração de renda e à desigualdade social. A questão é social, econômica e humanitária. Um país pactuado com a vida não pode se limitar a academias a céu aberto construídas em praças e abandonadas à própria sorte. Precisa de políticas públicas que fomente o desenvolvimento de um estilo de vida fisicamente ativo desde as primeiras etapas da vida.

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